Pare de lutar contra a depressão

 

Depressão

A depressão já é uma das doenças que mais matam e incapacitam pessoas pelo mundo. Segundo a OMS, estima-se que mais de 300 milhões de pessoas sofram com esse transtorno. É um transtorno do humor, que afeta muitas ou todas as áreas de vida do indivíduo, podendo levar ao suicídio, sendo essa a segunda principal causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos. Mas, hoje, não vou falar sobre definições e estatísticas. Hoje eu vim para dizer: Se você sofre com a depressão, pare de lutar contra ela.

Relato pessoal

Em 2021, fui oficialmente diagnosticada com Depressão Ansiosa, ou seja, eu apresento sintomas depressivos e ansiosos. Digo oficialmente porque já faço terapia há muitos anos e, desde muito nova, vivo com a nuvem da depressão sobre mim. Sempre tive uma maior tendência para o negativismo e para a melancolia. Mas o diagnóstico mesmo só veio em 2021, quando finalmente venci minha resistência e aceitei consultar uma psiquiatra. Minha resistência, compartilhada pelas pessoas do meu círculo íntimo, não era exatamente com o profissional psiquiatra, mas com o remédio que, provavelmente, eu tomaria. E essa resistência se deve ao fato de ter visto, de perto, que remédios para depressão podem ter efeitos colaterais e podem não ter o efeito esperado, caso não sejam acompanhados de outros tratamentos. Bom, o remédio veio e fez toda a diferença. Mas antes disso, eu tive uma grande virada de chave nessa minha relação com a depressão. Eu mudei o meu olhar para ela.

Pare de lutar contra a depressão

A gente sempre escuta que precisa lutar contra a depressão, mas, hoje, eu discordo dessa frase. E acho que ela atrapalha muito no tratamento desse transtorno. E vou te explicar por quê. Ao longo do meu tratamento, quando eu ainda não tomava remédio e meu apoio era apenas na psicologia, sempre que eu tinha uma recaída eu sentia uma decepção e um desânimo enormes. Porque era como se eu tivesse perdido a luta, entende?! E eu pensava “para quê continuar tentando se vou continuar caindo?”. Eu buscava uma cura. Já que era uma luta, eu queria sair vencedora. Mas a minha verdadeira vitória com a depressão não é eu não ter mais recaídas, é eu continuar me levantando, cada vez mais rápido, cada vez melhor. E quando eu entendi isso, tudo mudou.

Aceite a depressão

Eu parei de lutar contra a depressão e passei a me esforçar para aprender a viver com ela. Hoje, eu não me preocupo mais se existe uma cura para o que eu vivo. Ainda tenho dias de não querer sair da cama, de desejar morrer, de precisar dormir o dia todo para não pensar em coisas ruins. Mas uma pessoa com hérnia de disco, por exemplo, também pode ter dias em que não consegue se levantar da cama. Alguém com problemas cardíacos pode precisar interromper uma atividade específica. Uma pessoa com diabetes pode precisar tomar remédios para sempre. Doenças, em geral, vêm com restrições e perdas, mas também trazem oportunidades de aprendizagem e crescimento. E a depressão é apenas uma delas.

Naturalize o transtorno mental

Os transtornos mentais precisam ser naturalizados. No sentido de que são tão comuns quanto uma doença física. Precisam ser levados a sério, como qualquer outra doença, precisam ser tratados, mas não precisam ser o fim da estrada. Nenhuma doença precisa ser o fim. Como eu disse aí em cima, as doenças podem (e devem) ser encaradas como oportunidades, pois elas são apenas uma das muitas batalhas que todos nós enfrentamos nessa vida. Hoje, eu vivo com a depressão. Tenho mais dias bons do que ruins. Faço acompanhamento psiquiátrico (ainda com remédio), psicológico e tenho uma segunda terapia chamada ballet. É fácil? Não. Mas eu não espero mais que seja fácil. Apenas que seja possível e mais leve.

 

Psicóloga Marcelle Maia
CRP 06-198285

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